hostil o sonho reverbera nos sentidos
às cegas
- são as mãos sem uma estrela
nos olhos
o tempo sem destino
- esta palavra...
Lilia
Amar é este azul sem nome, esta distância lado a lado, o lume de um olhar, a cor, o vento, um fado...
hostil o sonho reverbera nos sentidos
às cegas
- são as mãos sem uma estrela
nos olhos
o tempo sem destino
- esta palavra...
Lilia
toca-se o fruto da palavra
a polpa ardente
movem-se as pétalas que antes existiram
rumores de sabor escorrem na tua boca
sente-se o novo som na sinfonia
- o sumo do poema
Le temps déborde.
Mon amour si léger prend le poids d'un supplice.
(Paul Eluard)
o sonho tem o peso de um suplício
o tempo transfigura amores
e pesa mil dores de mães e filhos únicos
de outras dolorosas mães amantes filhas filhos
o amor pesa e transborda em sua foz
ao longe não se mistura ao sal
do mar
das lágrimas
desanda pela cruz
demain encore eu desperdiço o tempo
nos papéis lençóis sem pauta em silêncio
desenho soluções nos chãos da casa
na leveza das caixas
resvalam
e deságuam nas lâmpadas apagadas
revejo sorrisos inteiros madrugadas
insone ritual sem peso ontem ainda
era o meu tempo
era o meu rosto
o meu rio as cruzes minhas
o suplício leve...
imóvel o ar
não se move o desejo sem o vento
- e eu perdi o vento na passagem
não se vive uma brisa sem desejo
- secou-se o beijo à sombra do meu tempo
que luz ainda força a ideia à fantasia
que ser escolhe ainda o verso imóvel
nos tropeços das lembranças na voragem
que portas de medo que segredo
o homem articula com o futuro
e quantos silêncios nos sons da sinfonia
são presságios de vigília e de relento
apenas o sonho como assim se chama
move a alma apenas esse extremo é poesia
o mais é o imóvel ar a flama ausente
a mente sem destino – amente
Lilia
um ensaio de primaveraLilia
na união esparsa de nossas vontades
ante a noite
aberta em estranhas novas almas
- é a vida entremeada pelas velas
em trânsito no rio iluminado
sombras liam o sopro
de nossas cinzas
ao brasido e leve olhar de anseios novos
.
LiliaA calma intrépida cintila correntezas
em baixamar
neste corpo de
rio indócil espalmei meandros
distingui venturas incertezas
- lenta voga ao longe a igaraem gesto de poema