Azul sem nome


longo destino sob a noite nas pedras de ninguém
quando o rio destoa das vertentes do céu
profundo sob o peso rasgado da chuva

mesmo a certeza desaba além dos homens

longa e lenta a história inscrita nessas mãos
mais vivas do que a luz no impulso do fim
mais ocas do que as trevas à procura do azul

Lilia

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Estavamos em pleno inverno tropical, o céu branco-molhado, a ar envolvendo as coisas com uma porosidade que se transfere do ambiente para os corpos e para o pensamento. Pancadas de chuva intercalam-se com essa liquidez aérea e aqui e ali um pouco de sol torna translúcido o céu esbranquiçado. A dor se instalou definitivamente em uma dessas manhãs de fevereiro, do Norte. A pontada de dor tendo-se implantado na região lombar das minhas coisas, irradiou-se atingindo as duas pernas com um peso e um cansaço quase inacreditáveis. Deitei imediatamente, tentando encontrar uma posição que aliviasse aquela pontada, dobrando as pernas numa tentativa de protegê-las do peso e do incômodo que causava. Enfim o corpo respondia à longa sucessão de angústias e pavores que tem massacrado meu coração. Eu tinha a mais pura certeza de que o meu corpo ia pifar. Remédios cuidadozemente recomendados para que não provocasse reacões alérgicas, que costumavam me acomter quando mais nova os médicos receitavam remédios novos para mim e no final o susto da urticária que me transformava em monstro e da rouquidão que precedia o edema de glote acabavam sendo mais preocupantes do que a doença inicial e os remédios para curá-la. E lá eram dias e dias para desinchar os olhos e os lábios e para conseguir amenizar a coceira desesperradora da urticária alérgica. Passei a não tomar remédios novos e ia deixando o corpo reagir lentamente, sem a intervenção da ciência médica. Mas desta vez, a dor ia fundo demais, incessante, não havia posição aceitável para as pernas. O jeito foi telefonar para todos os médicos que conhecíamos para tentar uma solução sem que eu caísse nas malhas da alergia.
Era domingo de carnaval, o que se chamava, outrora, de domingo gordo...