Azul sem nome


longo destino sob a noite nas pedras de ninguém
quando o rio destoa das vertentes do céu
profundo sob o peso rasgado da chuva

mesmo a certeza desaba além dos homens

longa e lenta a história inscrita nessas mãos
mais vivas do que a luz no impulso do fim
mais ocas do que as trevas à procura do azul

Lilia

domingo, 22 de agosto de 2010

... ao tempo

jogados no tempo nossos olhos
as verdades doem mais que antes

jogado ao tempo nosso sono
a angústia acende a madrugada
nas praias de estio e de cansaço

jogadas ao tempo nossas mãos
a paz perdeu seus dedos
e o nosso vazio repleto de insossegos
machuca laços não desfeitos e nós cegos
dispersam dispersamos a ternura de uma fonte

jogados nós ao tempo
as linhas perdemos da alegria
e definham nublados os horizontes

nas horas de prece que ao tempo prevalecem
que luzes aquecem a chama ainda viva
não se esqueçam sonhos – entrevivos semprevivos –
nem memória remoída não solúvel
de tantos silêncios palavras ternuras
jogados ao tempo
ao onde e ao quando do tempo
– sólido tempo que nos beija a face ida a face nossa
de cada momento
ainda e sempre revivida
na invisível face do tempo

Lilia

domingo, 8 de agosto de 2010

ontem ainda

Le temps déborde.
Mon amour si léger prend le poids d'un supplice.
(Paul Eluard)

o sonho tem o peso de um suplício

o tempo transfigura amores
e pesa mil dores de mães e filhos únicos
de outras dolorosas mães amantes filhas filhos

o amor pesa e transborda em sua foz
ao longe não se mistura ao sal
do mar
das lágrimas
desanda pela cruz

demain encore eu desperdiço o tempo
nos papéis lençóis sem pauta em silêncio
desenho soluções nos chãos da casa
na leveza das caixas
resvalam
e deságuam nas lâmpadas apagadas

revejo sorrisos inteiros madrugadas
insone ritual sem peso ontem ainda
era o meu tempo
era o meu rosto
o meu rio as cruzes minhas
o suplício leve...


Lilia