Azul sem nome


longo destino sob a noite nas pedras de ninguém
quando o rio destoa das vertentes do céu
profundo sob o peso rasgado da chuva

mesmo a certeza desaba além dos homens

longa e lenta a história inscrita nessas mãos
mais vivas do que a luz no impulso do fim
mais ocas do que as trevas à procura do azul

Lilia

domingo, 23 de novembro de 2014

oito horizonte
---------(para Elvira)

da solidão das madrugadas veio a transparência da pétala - em sua pele -
veio a ternura plena de seu balbucio (para mim, t...ão vazia, transbordando de esperas)

ela trouxe a completude e a cor ...e tantas rimas ...tantos instantes repletos - o infinito tatuado em mim
-
e no silêncio desta madrugada - em que o oito do infinito crava sua história - arde-me a memória, riso dos meus olhos rasos
:
sinto sempreviva toda a alegria de ser mãe!

Lilia

8 de novembro

respeito a voz de uma filha
mãe
ouço
imploro
mãe...

era aurora e de amor tu me falavas
e é de amor que se trata agora
é de agora
e a voz tu me cedias
cedo
e saio de cena

-------- poema

3 de novembro

aquele grito
atravessando a vida
cravou de luz eterna
este silêncio
o som da pedra fraturando...

o que resta das palavras
encarnado
pela espera: quando
?

--------som sem poema

2014

doismilecatorze e o silêncio
marés de ressaca e ondas repetidas
e que mais?
contos por fazer

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

véspera

à luz destas
mãos
destinada
ontem
à ternura de olhos
sem luz

REVOADA DE VERSOS VÁRIOS TEMPOS

não existe pássaro algum
mas ouço o gemido de um ninho
a espera
[para] além do passado
consegue
tocar um horizonte antigo

passarinho

meu cansaço no escuro traça a silhueta de um suí -
contra a casa e a casuarina
oferta de bananas e mamões -
simples
este
presente...
Deve a vida estender a compreensão
até a mais leve espuma da última onda na areia
quando a vaga esperança
absorvida desaparece na praia

como entender o gesto seco
a ardência
o desacato

vazante a lágrima
as ondas descaem incrédulas
recolhem-se ao horizonte de antes
no avesso do presságio

(antes de antes)

la grisaille et les arbres du bois

esquecendo que era Belém a visão nublou-se de inverno


o som da tristeza

... mas o som da tristeza escapa ao destino reverbera no poema a estranha sorte e violenta rompe o verso a vida a voz em súplica de silêncio e névoa...
(não cravar uma data, um momento...) quando? onde?

domingo, 26 de fevereiro de 2012

onde?

entre o nada e o sagrado fundam os pássaros a beleza do voo e a palavra poética, o permanente estame amparando o fascínio do caos

domingo, 30 de outubro de 2011

máscara

há uma tarde inteira
em meu abraço
e muitos destinos desatados

o vento desistiria se eu cantasse

ah, que galope desvairado
tem o lento disfarçar
do meu sorriso?

Lilia

silêncio

na sombra do meu verso dorme um amor inacabado
sem remates sem retoques
nas surpresas suspensas
dorme
como um desejo sem tempo um grito em silêncio ausente
apenso à vida

– de tanto silêncio corrompi poemas
versos rarefeitos cerrados gázeos que não vi

que perfume não senti? quando minhas mãos onde
– lembro?
(desfizeram-se)

dorme
– de silêncio e sombra há um canto no poema
teu
(sem fim será a linha que traçamos sem nós

Lilia

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

sanglots longs


para a gilda que também
vive a dor das folhas


belém outonal é minha alma
como as folhas dói sob o peso do céu
e silencia as horas na chuva noturna

mas chorar não mede o tempo
e o chover pode despertar auroras :

apressa-te e estende os sonhos - a chuva está no chão
!

o vento abraça antigas as mangueiras
descabeladamente
sussurra-lhes descanso
ao delize ao desterro

- as raízes resistem -
e seguem maternas
desfolhando o tempo


(quantos perdem seu instante a escutá-las)
?

...

quem sabe de outonos e da dor das folhas
não é a cidade
a alma urge de olhares
sem instante é o verso
e o líquido outono dos meus olhos

Lilia

domingo, 25 de setembro de 2011

merci, grace, pelo azul de van gogh... (clique nele)

re verso

re
volta palavra
re
canto lamento
re
lento de vida
re
manso de morte

Lilia

passado

um cavalo desespera em crina de vento
nas vivas formas de esquivo sonho

(no invisível da aurora destemido
era promessa)

enfim descabelado em crepúsculo
de lágrima faz seu movimento
traça ao longe o rastro sem luz

mas na íris da visão opressa
ofusca ainda o seu fulgor perdido

Lilia