Azul sem nome


longo destino sob a noite nas pedras de ninguém
quando o rio destoa das vertentes do céu
profundo sob o peso rasgado da chuva

mesmo a certeza desaba além dos homens

longa e lenta a história inscrita nessas mãos
mais vivas do que a luz no impulso do fim
mais ocas do que as trevas à procura do azul

Lilia

terça-feira, 19 de outubro de 2010

tradução

traduzo a chuva pelas pálpebras do dia
para não dizer a desistência do amanhã

releio as vozes de ontem rasgo momentos
choro em remoinho verdades esquecidas

descabelam-se os fios dos meus anos
no verso de prata madrugados
quando as luzes adormecem ante a aurora

que parte do meu texto é descabida - vida minha
de olhos desatentos - que agora? que depois?
Lilia

terça-feira, 12 de outubro de 2010

a cor da aurora

era para ser de mim inteira
a fagulha extrema
e toda a via futura no início de nada

foi apenas a límpida escolha
recém-nascida transparência do amor

de longe ao sul eram todos os sonhos

agora uma face de pedra
esconde a cor da aurora
que não sei voltará a surgir

Lilia

sigilo

o que jamais aconteceu novamente
e nunca deslembramos
pequenos toques a mar em sóis e
luas derretendo
correntes entre as estrelas
nenhuma noite nas frases
outrora descobertas

era agora o corpo a corpo
solene das palavras
e amanhã eram as outras vidas
que sempre vivi
findo o simples sigilo de ser

Lilia

alumbre

perdi o pergaminho do tempo
aquele entre páginas de memória
acastelando os passos da casa
perdi o texto das horas nos meses recônditos de ante-agosto
sem traços de espera ou semi-sonhos nem antes nem depois

existo na timidez de novas normas nas dobras de discursos
e os dizeres ardem nos olhares esperanças desgostos
o corpo desiste o cansaço abandona a antiga bandeira

visto as pálpebras
e manuscrevo mentalmente os minutos virtuais
na última dormência
quando ainda existe alumbre na pele do tempo
e poetagem no laivo desta vida
Lilia